por Francisco Ferreira*
As Nações Unidas declararam 2020 Ano Internacional da Fitossanidade no quadro dos trabalhos da Convenção Internacional para a Proteção das Plantas, um tratado aprovado na 6.ª Conferência da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) em 1951.
Efetivamente, a produção agrícola é limitada por condições climáticas, mas as alterações em curso e o aumento dramático do comércio internacional ampliaram os riscos de que pragas e doenças invasoras de plantas possam ser introduzidas na agricultura, florestas e ambiente de países longínquos da sua origem e se possam depois estabelecer permanentemente.
Já se observa um aumento das pragas florestais associadas ao aumento da temperatura. Mesmo países desenvolvido, com sofisticados sistemas de produção e infraestruturas fitossanitárias conseguem por si só limitar a propagação de pragas e doenças. Prevenir a disseminação de tais organismos é um desígnio internacional que requer a colaboração de todos os países desenvolvidos e em desenvolvimento, bem como de todas as regiões do mundo.
A prevenção deve estar no centro das considerações fitossanitárias. Quem trabalha na agricultura e na floresta sabe muito bem como lidar com pragas e doenças autóctones. O principal problema são as pragas e doenças exóticas, incluindo as que ainda não chegaram e que podem ter impactos potencialmente devastadores quando introduzidos em novos ecossistemas. São precisamente estas pragas e doenças cuja propagação devemos prevenir. Para além de evitar custos brutais com as perdas diretas e indiretas causadas, os prejuízos para o ambiente podem ser muito significativos à custa do uso de pesticidas desnecessários se essas ameaças não estivessem presentes. Mais ainda, o tempo despendido no combate é também significativo e tem um custo elevado. Ao impedir a introdução de pragas, não apenas se protege a agricultura e silvicultura, mas também a biodiversidade.
Em Portugal, as pragas e doenças exóticas introduzidas são as que mais prejuízos causam à floresta. O nematode da madeira do pinheiro no final do século passado foi provavelmente o maior problema de fitossanidade que afetou as florestas portuguesas com prejuízos diretos associados à mortalidade dos pinheiros, mas também ao impacte da proibição de exportação da madeira. A broca do eucalipto e o gorgulho desfolhador são exemplos que nas últimas décadas têm afetado uma das espécies a que está associado um maior rendimento, o eucalipto.
À escala mundial, a lagarta do outono, originária das Américas, foi introduzida recentemente na África e depois na Ásia. Só em África os prejuízos atingiram já milhares de milhões de dólares, ameaçando a produtividade a produtividade agrícola e exigindo que a comunidade internacional e a FAO gastassem enormes quantias de dinheiro para ajudar os países africanos e asiáticos a lidar com o problema.
Neste Ano Internacional da Fitossanidade, alguns dados ajudam-nos a perceber a relevância do problema:
– As pragas de plantas são responsáveis pela perda de até 40 % das culturas alimentares globais e pelas perdas comerciais em produtos agrícolas que excedem 220 mil milhões de dólares anualmente.
– As alterações climáticas estão a ter um grande impacto na saúde das plantas, ameaçando reduzir a qualidade e a quantidade de culturas, levando a rendimentos mais baixos. O aumento da temperatura também está a causar escassez de água e a mudar a relação entre pragas, plantas e patogénicos.
– Cada vez um maior número de pragas de plantas estão a aparecer mais cedo e em lugares onde nunca foram vistas antes devido às alterações climáticas.
– Há vários insetos benéficos vitais para a saúde das plantas, que polinizam a maioria das plantas e mantêm as pragas sob controlo, mantêm a saúde do solo, reciclam nutrientes e muito mais. No entanto, 80 % da biomassa de insetos desapareceu nos últimos 25 a 30 anos.
* Professor Universitário, Presidente da Zero