Paulo Aido
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Cecília, Leah, Luigi, Paolo, Huma, Maira, Agostino… Provavelmente, nunca ouviu falar deles, ou então apenas terá lido algumas linhas sobre estes homens e mulheres. São apenas exemplo de cristãos sequestrados por causa da sua fé nos dias de hoje. São padres, irmãs, leigos. É também para eles e por causa deles que existe a Fundação AIS.
Têm nome. Vamos tratá-los por Cecília, Leah, Luigi, Paolo, Huma, Maira, Agostino. As suas histórias são comoventes. São o retrato da tragédia que se tem vindo a abater sobre os cristãos em vários continentes, em inúmeros países. Todos os relatórios produzidos pela Fundação AIS são um alerta para essa realidade dramática: os cristãos são a comunidade religiosa mais perseguida. Uma realidade que, no entanto, o mundo parece querer ignorar. Cecília é uma irmã franciscana. Estava no seu convento, no dia 7 de Fevereiro de 2017, em Karangasso, no Mali, quando foi levada por homens armados. Gloria Cecília Narváez Argoti, 56 anos, é colombiana. Dedicava os dias a auxiliar crianças órfãs e a dar apoio e formação às mulheres das aldeias da região. Foi levada à força por homens armados de metralhadoras e catanas.
Imagem: Irmã Glória Cecília Argoti
Leah, Huma e Maira
Leah Sharibu é uma jovem. Foi raptada na sua escola em Fevereiro de 2018, juntamente com mais 110 colegas. Foi a única que ficou em cativeiro, às mãos do temível grupo jihadista Boko Haram, porque recusou renunciar à sua fé. Tinha então 14 anos. As últimas notícias referem que poderá, entretanto, ter engravidado em cativeiro. Tal como Leah Sharibu, também Huma Younus e Maira Shabhaz, ambas do Paquistão, ambas cristãs, foram raptadas, violadas e forçadas a “casar” com os sequestradores, muçulmanos. Todas são ainda adolescentes. Huma e Maira tinham também 14 anos quando foram retiradas à força de casa dos seus pais.
Imagem: Huma Younus
Paolo, Luigi e Antonino
O Padre Paolo D’Oglio foi raptado por jihadistas do Daesh a 29 de Julho de 2013 na cidade síria de Raqqa quando estava envolvido numa tentativa de libertação de um grupo de prisioneiros. Não se sabe o que lhe aconteceu. O Padre Pier Luigi Maccali foi sequestrado em Setembro de 2018 em Bamoanga, no Níger. Este missionário italiano de 59 anos de idade, bem conhecido em África, onde passou mais de uma década ao serviço da Igreja e dos mais pobres, foi forçado a gravar um vídeo em Março deste ano como prova de vida. Talvez queiram negociar algum resgate. Antonino Cui Tai, de 70 anos, é Bispo auxiliar da Diocese de Xuanhua, na China. Pertence à chamada ‘Igreja Clandestina’ e foi este ano novamente preso. Calcula-se que tenha passado grande parte dos últimos 13 anos privado de liberdade por querer manter-se fiel ao Vaticano e ao Papa.
Imagem: Padre Paolo D’Oglio
Gritos de angústia
A Fundação AIS assinalou, no dia 13 de Outubro, 25 anos de presença em Portugal. Esta fundação pontifícia tem como missão ajudar as comunidades cristãs perseguidas por causa da fé, mobilizando para isso recursos e procurando alertar o mundo para esta realidade tantas vezes ignorada. Todos os dias, a Fundação AIS recebe pedidos de ajuda. Por vezes, muitas vezes, infelizmente vezes de mais, são gritos de angústia de pessoas que perderam tudo o que tinham, que vivem com medo da violência, que vivem aterrorizadas, que são perseguidas. São gritos de socorro. Não fazer nada, responder com um ensurdecedor silêncio, seria impensável, criminoso mesmo.
Imperativo de consciência
A Fundação AIS existe, nas palavras do Padre Werenfried van Straaten, o seu fundador, para secar as lágrimas de Deus na terra. De facto, há milhares de pessoas, em muitos países do mundo, privadas da sua liberdade, por vezes até condenados à morte, por serem cristãs. Há milhares de pessoas que têm também de viver a sua fé clandestinamente, em países onde o poder do Estado desconfia do poder da fé. E há também milhares de pessoas que são simplesmente ignoradas pela sociedade, como se fossem invisíveis, como se não existissem, como se as suas lágrimas não incomodassem, mesmo quando estão reduzidos à condição de farrapos humanos. É para eles, para todos eles que existe a Fundação AIS. Esta é uma missão que nos deve mobilizar a todos. Ajudar esta Igreja que sofre e cujos lamentos, lágrimas e sangue raramente chegam a ser notícia no nosso país, deve ser um imperativo de consciência.